Um estudo genético constata avanços na recuperação do lince-ibérico

As medidas adotadas nos consecutivos programas de conservação do lince-ibérico (Lynx pardinus), entre os quais o Projeto Life+IBERLINCE, coordenados pela Consejería do Meio Ambiente e Ordenamento do Território da Junta da Andaluzia e cofinanciados pela União Europeia, bem como os programas de criação em cativeiro, conseguiram uma melhoria consideravel ao nível da genética, uma das causas que levou a espécie a estar em perigo crítico de extinção.

Esta evidência foi revelada num estudo realizado por cientistas da Estação Biológica de Doñana sobre o genoma do lince-ibérico, supervisionado pelo Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), que foi publicado esta quarta-feira na revista Genome Biology.

Os cientistas sequenciaram o genoma do lince-ibérico e, através das análises do seu ADN constataram indícios de uma “erosão extrema” nos seus genes motivada pela perda da diversidade genética.

Os investigadores comprovaram que a perda da diversidade genética, mais acentuada na população de lince-ibérico que de Doñana, não só diminuiu nos últimos anos, como melhorou graças a uma medida fundamental desenvolvida pelos projetos liderados pela Junta da Andaluzia: o intercâmbio genético entre as populações de Doñana e Serra Morena que teve início em 2007 e a gestão genética do programa de criação em cativeiro.

“A consanguinidade provoca taxas elevadas de doenças, os indivíduos reproduzem-se menos e, geralmente, há menos possibilidades de sobreviverem”, explica José Antonio Godoy, investigador do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC).

Assim, umas das tarefas dos centros de criação em cativeiro é a gestão da variabilidade genética, para que os animais libertados nas áreas de reintrodução contribuam ao máximo para a diversidade genética na população a que se destinam. “Os programas de reprodução basearam-se em indivíduos nascidos em cativeiro, os quais possuem pouca consanguinidade”, diz Godoy.

Candiles, um exemplar da Serra Morena

Os investigadores identificaram 21.257 genes e, analisaram cerca de 2.400 milhões de letras do ADN destes animais. Fizeram-no através de um dos exemplares da população da Serra Morena, um macho de nome Candiles que, atualmente faz parte do programa de criação em cativeiro.

Graças a estes estudos, foram encontrados indícios de modificações em genes relacionados com a audição, a visão e o olfato para facilitar a adaptação do lince-ibérico ao seu ambiente.

Além disso, foram estudados os genomas de outros dez linces-ibéricos de Doñana e Serra Morena, as duas únicas populações superviventes na Península e, foi realizada uma análise comparativa com um lince europeu a fim de estabelecer-se as relações entre os dois linces que habitam na Eurásia.

Como resultado, verifica-se que as quebras demográficas do lince-ibérico são a causa de níveis baixos de diversidade observados e, que graças à gestão realizada pelos programas de conservação da espécie, houve uma melhoria significativa.