Despedida do avô de Doñana

No passado dia 31 de janeiro de 2017, a equipa do projeto Life+IBERLINCE que realiza a monitorização da população de Doñana, localizou o cadáver de um macho adulto conhecido como “Boliche”, num couto de caça na área do Parque Natural.

Este exemplar, prestes a completar doze anos, era, neste momento, o macho mais velho da população, conforme a sua condição física (especialmente a sua dentição) o comprovava, ainda no passado dia 11 de outubro, quando foi capturado e realizado um check-up no âmbito do programa de rotina de avaliação sanitária.

“Boliche” (irmão da ninhada de “Boj”) nasceu em 2005 na zona norte de couto del Rey.

Com um ano de idade e com uma dispersão relativamente rápida, instalou-se a sul do Rocio, no Parque Nacional de Doñana. Alí viveu durante 6 anos, toda a sua época de maior potencial competitivo ou de máximo vigor, partilhando o seu território com a fêmea “Aliso”, até ser expulso por outro macho mais jovem que ele.

O final da vida de um felino selvagem é sempre triste e difícil. Deteriorado e envelhecido pelo passar dos anos, é deslocado por indivíduos mais jovens e a viver mal em zonas sub-ótimas até morrer.

Mas, não foi exatamente este o caso de “Boliche”. Este macho passou os seus últimos cinco anos de vida num couto onde os coelhos abundam muito mais que no seu antigo território, o que parece indicar que teremos conhecido o primeiro caso de “reforma saudável de linces”.

A gestão cinegética realizada pelo Clube Desportivo de Caçadores Virgem do Rocio é exemplar e os resultados dos censos de coelho e lince (entre outras espécies), bem como a estreita colaboração com o projeto Life+IBERLINCE e outros projetos desde o princípio do século assim o testemunham.

É encorajador encontrar casos como este em que a conservação e a gestão cinegética, além de compatíveis são também complementares; oxalá fosse sempre assim.

Após receção dos resultados das análises analíticas necessárias para completar a necropsia, pode-se concluir que “Boliche” morreu de tuberculose, mas com o estômago cheio e sem qualquer chumbo no seu corpo.

E a vida continua; dizemos adeus ao velho “Boliche” com a alegria de saber que o espaço que deixa na população de Doñana já está a ser ocupado por outro macho.