A história de Lorca

Lorca, uma velha fêmea de lince, foi capturada por técnicos e veterinários da Junta da Andaluzia integrados no Projeto Life+Iberlince, no passado dia 16-9-2015 numa zona a norte da A-4 em Jaén.

Foi capturada manualmente e constatou-se que estava muito desnutrida, extremamente débil e desorientada. A verificação do seu estado revela ainda altos níveis de parasitas de várias espécies infeções por vários virus. O exemplar foi levado para o centro de recuperação de El Blanqueo (Granada), onde foi internado e iniciado um tratamento a algumas das infeções apresentadas.

Após quatro dias de internamento, o animal deixou de comer e o seu estado de saúde piorou significativamente. Dado o enorme sofrimento apresentado pelo animal e, a impossibilidade de voltar a libertá-lo, decidiu-se colocar um fim ao seu sofrimento.

Foi uma decisão difícil mas consensual, tomado-se como base que o animal senil que havia passado uma longa vida no campo, não merecia um sofrimento alargado em cativeiro, quando as probabilidades de se vir a recuperar eram extremamente baixas.

Esta fêmea foi detetada pela Fundação CBD-Hábitat, pela primera vez em fevereiro de 2002, já adulta, numa propriedade do Valle del Jándula (Sierra de Andújar, Jaén). Verificando-se que o felino pode viver mais de 15 ou 16 anos. Por vários anos partilhou o territorio com a sua mãe, Nuria, histórica fêmea que apresentava um pelo com listagens muito finas, levando a assemelhar-se, por vezes, a um lince boreal.

Nuria, em 2005 “cedeu” o território a Lorca e, nos anos seguintes, realizou grandes dispersões. Primeiro ocupou umas “pastagens” próximas, e em seguinda, mudou-se para a zona de Guarrizas (foi uma pioneira da reintrodução nesta área) e regressou a Jándula.
A partir dessa altura, Nuria realizou uma grande viagem e chegou a Cazorla, Sierras del Segura e Las Villas. Mas, regressou de novo a Guarrizas, voltando a viajar até Cazorla, chegando mesmo à Serra del Castril, no limite com Granada. Finalmente, voltou a Guarrizas, onde deberá ter acabado os seus dias devido à sua idade avançada.

Lorca, entretanto, percorreu o territorio da sua mãe, e teve pelo menos 4 ninhadas com 7 cachorros, um deles uma fêmea denominada Carraca (2006). Com esta fêmea, Lorca dividiu o território durante uns anos (como terá feito a sua mãe com ela; outro exemplo de territórios duplos) até que nos últimos anos começou a movimentar-se dispersivamente em parte desconhecida.

No entanto, em dezembro do ano pasado foi detetada no seu antigo território, e podemos imaginar que partilhou alguns momentos com Carraca, a atual residente do território da sua mãe e avó.

Em fevereiro, Lorca foi detetada a sul, num olival e, pensa-se que, embora exista alguam disponibilidade de coelhos, as doenças e a sua idade avançada foram determinantes para a sua morte.