A incrível história de Hongo, o lince de Doñana que abriu caminho até Portugal

Nascido em 2011, na cidade de Doñana-Aljarafe, concretamente na zona de Aznalcazar. Filho de Alcornoque e de Esencia.

Na manhã de 10 de julho de 2012, foi localizado juntamente com o seu pai “Esencia”, pelos técnicos  da equipa de acompanhamento no interior de um reservatório de rega localizado  no Corredor Verde del Guadiamar. O reservatório apresentava um nível baixo de água e umas paredes revestidas a plástico com uma inclinação que impede a saída do animal pelos seus próprios meios. O macho adulto, “Esencia” apresentava uma condição física aceitável, e apenas se facilitou a sua saída do reservatório, no entanto, o jovem “Hongo” apresentava uma condição física muito deteriorada, optando-se pela sua captura, exame sanitário e posterior transporte para o centro de cria de Acebuche, para recuperar a sua condição física, e ser posteriormente libertado no território dos seus progenitores. No dia 6 de agosto de 2012, com a sua condição física recuperada, e com um colar emissor, libertou-se novamente no território paterno. Desde esse momento, realizou-se um acompanhamento, seguindo-se as orientações descritas no protocolo de rádio-seguimento. No dia 26 de outubro de 2012 deixou-se de receber sinal do colar emisor e como tal, não se voltou a receber nenhuma foto de “Hongo”, nas distintas campanhas de foto-armadilhagem levadas a cabo na cidade de Doñana-Aljarafe.

Na sexta-feira, dia 9 de maio de 2013, o ICNF de Portugal enviou à equipa de seguimento de Andaluzia duas fotos daquilo que parecia ser um lince ibérico. As fotos tinham sido tiradas por uma câmara colocada pelos gestores cinegéticos de uma herdade em Vila Nova de Milfontes, no concelho de Odemira, no sudoeste de Portugal. Com estas fotos não foi possível identificar o animal, porque foram tiradas de noite, a grande distância e a fraca resolução, não permitiu realizar uma comparação com o arquivo fotográfico do projeto. Um membro da equipa de seguimento de Doñana‐Aljarafe deslocou-se até Vila Nova de Milfontes com o material necessário para confirmar a presença do exemplar de lince na zona. Tanto o gestor da herdade, Francisco Caim Dias, como os técnicos do ICNF e o diretor do centro de cria de Silves, colaboraram em todo o momento na busca de indícios que permitissem confirmar a presença de um lince na zona. Depois de vários dias de buscas, não foi localizado nenhum indício, pelo que foram então colocadas mais câmaras de foto-armadilhagem. No dia 29 de maio de 2013 apareceu uma nova fotografía, que foi suficiente para identificar o exemplar, tratando-se de Hongo, do qual se tinha uma última localização em outubro de 2012, perto de Bollullos de la Mitación (Sevilha)…..Um autêntico viajante (mais de 250 km em linha reta, desde o seu ponto de partida…).

Hongo sobreviveu à armadilha mortal que foi a sua queda num reservatório de água em 2012. Hongo conseguiu atravessar a estrada A‐49 em Espanha e o IC4 e IC1 em Portugal, para além das incontáveis estradas secundárias, os rios Tinto, Odiel e Guadiana….e quem sabe que outras mais situações de risco. Este incrível lince, é descendente do mítico Baya, o primeiro animal que fez parte do programa de reforço genético em Doñana.

Hongo, um lince que se fez ao caminho, sendo um motivo de peso para basear as nossas esperanças de que um dia, não muito longínquo, este animal voltará a deslocar-se ao largo de toda a penísula ibérica, honrando o seu nome “Lince-Ibérico”.

O projeto Life+IBERLINCE quer agradecer às associações de caçadores da Zona de Caça Associativa Herdade das Casa Novas, e aos gestores cinegéticos e proprietários das herdades onde apareceu Hongo, a sua colaboração com os técnicos do projeto; o seu trabalho possibilitou a identificação deste lince viajante.