Floreal

Este nome “tao pouco masculino” corresponde a um dos machos de lince-ibérico que mais contribuiu nos últimos anos para melhorar a genética desta espécie em Doñana.

Floreal, nasceu no parque Natural da Serra de Cardeña e Montoro, na área pertencente ao núcleo de linces do vale do río Yeguas. Filho de Candela e Yeguas, nasceu em 2009 numa ninhada de quatro cachorros. Desde o primeiro momento esta ninhada foi sempre muito controlada pela equipa do projeto Life, por receio de que a mãe não fosse capaz de criar todos os cachorros. No entanto, Candela realizou o seu papel enquanto progenitora com muito esforço e determinação.

Nessa altura procurava-se um lince macho da população da Serra Morena para contribuir para o reforço genético de Doñana, e descobriu-se que Floreal era o melhor candidato para tal. O seu futuro iria desenvolver-se longe de onde havia nascido.

Após a excelente experiência da deslocação de “Baya” e, os intensos meses de monitorização do infrutuoso viajante “Caribú”, “Floreal” foi o terceiro exemplar de lince-ibérico deslocado para aumentar a variabilidade genética em Doñana, cuja população se encontrava, até então, com baixo nível genético devido, entre outros, a fatores de endogamia.

Em janeiro de 2011 inicia movimentos dispersivos, partindo da propriedade onde foi libertado em Hinojos (Matasgordas) atravessando os pântanos do Rocío até ao sul. No mês de março do mesmo ano realiza uma viagem de ida e volta de 65 km até à zona oeste. Nesta viagem descobre as culturas em estufa em Moguer e Palos de la Frontera e, retorna ao Parque Nacional. Em maio inicia outra viajem até ao norte, voltando a cruzar o Rocio e chegando à autoestrada A-49 em Bollullos del Condado. Durante todo o verão continou a deslocar-se sem nunca cruzar a autoestrada até ao norte, no entanto contorna-a para este, chegando ao rio Guadiamar em Benacazón.

A partir do mês de setembro de 2011, Floreal estabelece-se definitivamente e, desde então encontra-se numa propriedade entre Hinojos e Pilas (Huelva-Sevilha). Ali, torna-se adulto e reproduz-se com uma fêmea mista (Doñana-Serra Morena) chamada “Fenda”, descendente de “Baya”. Nascem os primeiros cachorros com 75% de genética de Serra Morena na população de Doñana.

Floreal manteve o seu estatuto de macho territorial nesta zona durante 4 anos. Neste período, como macho adulto, apenas abandonou o seu território durante as distintas épocas de cio no inverno, nas quais realizava breves viagens visitando os territórios das fêmeas vizinhas.

No passado dia 20 de novembro, um particular que passava numa estrada entre Villamanrique de la Condesa e Hinojos alertou para a existência de um cadáver de lince nesse local. Rapidamente se colocou em ação o plano que projeto Life+IBERLINCE estabelece para estas situações. A morte tinha ocorrido recentemente visto que o sensor de mortalidade que possuiu no colar do animal ainda não tinha dado o alerta.

Após o rápido e eficaz levantamento por parte de um Agente do Meio Ambiente que se encontrava na zona, o cadáver de Floreal foi transportado para o Centro de Análises e Diagnóstico de la CMAyOT em Málaga, onde foi realizada a necrópsia. Os resultados das análises foram inconclusivos, desconhecendo-se a causa final da morte deste valioso exemplar; se bem que, suspeita-se que terá sido por causas naturais visto que o cadáver não apresentava evidências de qualquer traumatismo.

Durante estes anos de monitorização intensiva da população de linces de Doñana em geral e, do reforço genético em particular, de Floreal conheceram-se dez descendentes. Além dos seus cachorros de 2015, três filhos de cerca de um ano de idade, encontram-se vivos atualmente. Um deles, uma fêmea “Jumilla”, primeiro exemplar de pelagem fina em Doñana durante décadas, estabeleceu-se como adulta territorial e promete continuar com esta linha genética.

Floreal cumpriu com a finalidade para a qual se orientou o seu maneio e a população de linces de Doñana é agora menos “pobre” graças a ele.

¡Obrigado Floreal!

Vídeo dos movimentos dispersivos entre março e junho de 2011: aquí